terça-feira, 11 de maio de 2010
fragmento
no momento exato, logo depois de retirar a faca lentamente do corpo imóvel e pesado do gordo (a sensação era de se escorregar a faca de pão esquentada através do meio da manteiga mole), o alívio tomou conta do corpo de Frederico e a pulsação do seu tórax e braços foi diminuind,o na mesma proporção que o corpo do recém-cadáver imenso que recém-jazia no espaço encurtado da rua sem saída. a morte veio para aplacar a calma na alma trêmula de Frederico, que insistia em impulsioná-lo a qualquer coisa louca, algo que o fizesse parar. o descanso. havia dias em que se sentia exausto. a pulsação da alma lhe exauria. mas o simples movimento, convocando seu corpo inteiro contra o do imenso pançudo, os braços e mão como que quilhas suportando todo o impacto e o dissipando pelo espaço em volta, o haviam libertado. a vida, antes, o peso da vida já tinha se esvaido pra outro lugar, como uma sombra fugidia se esgueirando pelas frestas e ranhuras do chão, e já não pesava sobre a cabeça do louco Frederico, guardando ele, para si, a momentânea leveza da morte.
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