terça-feira, 17 de março de 2009

Pedi pra sair

o rio de janeiro não me faz tão bem quanto achava que fazia antes. nesse tempo simbolizava (só para lembrar, eu moro em Niterói) um final de caminho, onde finalmente poderia construir algo novo e deixar tudo de ruim qua havia acontecido comigo para trás. dentre outras coisas tinha o objetivo de sair debaixo da asa de minha mãe e peitar a vida num arroubo de periquito contra gavião. sentia que Barra era um lugar que não poderia me conter, sentia que outras coisa com certeza me esperavam do outro lado de alguns meses que precisavam passar o mais rápido possível, num processo cheio de rituais de passagem e de descobertas a cada momento. de fato consegui muito dessas coisas, mas minha vida nunca mudou tanto (sim, tenho 20 anos) quanto nesses quase três anos de aventuras não tão ousadas 'fora' de casa, sendo sustentado hipoteticamente com a intenção de me dedicar a estudos supostamente importantíssimos para meu dito futuro. até aí qualquer pessoa que tenha passado por esse 'processinho' de sair da casa dos pais sentiu ou sente ainda essas revoluções psicológicas, muitas vezes incoscientes, que maltratam por bom tempo noites de insonia num travesseiro encharcado de lágrimas ou sentado numa privada gelada numa tarde de terça-feira olhando pro chão rosa desbotado dum banheiro com decoração dos anos 50. entretanto, o que sinto hoje, no rio de janeiro de todo dia que encontro de varias formas em varios ônibus sacolejantes por muitos cantos da cidade, é um ar tão denso que respirar deixa de ser natural. encontro pessoas tão distante do que poderia ser considerado intimidade que se sentir sozinho se torna algo rotineiro. escondi por muito tempo esse estranhamento e coloquei uma máscara de carioca sobre esse mal-estar que, agora vejo, sempre esteve presente. fingir-me como mais um dentre eles foi um artificio muito eficaz em uma fase em que tudo de novo passava por mim como algo a ser experimentado e que tinha, pensava eu, a obrigação de dar chance a essas experiencias. não. hoje não dá mais. sou do interior. vim pra cá com intenções boas. com a cabeça e o corpo aberto a qualquer coisa. decidi que as pessoas, naturalmente, são diferentes por aqui, indeferentes até a raiz, mas que levaria pouco tempo para também começar a ser mais um deles. não. não tem como. tenho que me assumir como estou e tentar lidar com essa confusão. uma mistureba sem forma nenhuma. não consigo mais ver com bons olhos a loucura. tenho que ter uma forma. tenho que organizar essa massa desforme que estou hoje. não há como viver na incompreensão. no 'nem-lá-nem-cá'. queria a justiça da ilusão de compreender tudo. me arrebanhar não seria uma opção (não seria justo pensar que exista rebanhos. é uma ideia tão feia), nem quero voltar ao que era antes(que ao meu ver nem ver mais posso, muito menos conceber o que estava antes). tenho que me impor, dar ordem, dar forma, dar organização a essa mistureba, por mais reacionario ou conservador que possam me taxar (me perdoem, mas não consigo lidar agora com nenhuma 'carne infinita'). preciso de meus pés no chão.

2 comentários:

Lívia Barbosa disse...

Em essencia sou eu, em corpo voccê. Acho q expressou a mente de toda maioria dos barrenses novatos que correm pra cá.
A vida é um caos, por mais que tentemos alinhar, o risco escorrega. Mas veja só, ainda bem! É assim que é possivel reinventar e dar novo brilho ao cristalino dos olhos! Nossa ordem sempre será posta a baixo, sem isso, jamais sairíamos dela!

Anônimo disse...

gostei bastante do tom do texto, bastante sincero, mas nao entendo muito teu problema; as vezes eh um bom sinal se sentir estrangeiro num mundo como este.