segunda-feira, 30 de março de 2009

parece que o mundo tá indirente ao tempo. ele não passa.

quarta-feira, 25 de março de 2009

o foda de alguns blogs é que neguinho escreve tanta coisa que te desanima de ler. não é preguiça não, é que às vezes é tanta coisa pra falar de tão pouco. aceito esculachos, ok? só não vale envolver mãe.

Pirocas grandes, personalidades fortes e solidão (parte II)

"Nas noites de inverno, enquanto fervia a sopa no fogão, desejava o calor dos fundos da loja, o zumbido do sol nas amendoeiras empoeiradas, o apito do trem na sonolência da sesta, da mesma forma como desejava em Macondo a sopa de inverno no fogão, os pregões do vendedor de café e as cotovias fugazes da primavera. Aturdido por duas saudades colocadas de frente uma para a outra como dois espelhos, perdeu o seu maravilhoso sentido de irrealidade até que terminou por recomendar a todos que fossem embora de Macondo, que esquecessem tudo o que ele ensinara do mundo e do coração humano, que cagassem para Horácio e que em qualquer lugar em que estivessem se lembrassem de que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera."

Pirocas grandes, personalidades fortes e solidão (parte III)

"Em seguida, derivou para episódios dispersos, mas os evocou sem qualificá-los, porque de tanto não poder pensar em outra coisa tinha aprendido a pensar frio, para que lembranças iniludíveis não lhe estragassem nenhum sentimento. De volta à oficina, vendo que o ar começava a secar, decidiu que era um bom momento para tomar banho, mas Amaranta se havia antecipado a ele. De modo que começou o segundo peixinho do dia. Estava engatando o rabo quando o sol saiu com tanta força que a claridade rangeu como uma canoa. O ar lavado pela chuvinha de três dias se encheu de tanajuras. Então caiu em si, percebendo que tinha vontade de urinar e estava adiando até que acabasse de armar o peixinho. Ia para o quintal, às quatro e dez, quando ouviu os instrumentos, longínquos, as batidas do bumbo e a alegria das crianças, e pela primeira vez desde a juventude pisou conscientemente numa armadilha da saudade e reviveu a prodigiosa tarde de ciganos em que o seu pai o levou para conhecer o gelo. Santa Sofía de la Piedad abandonou o que estava fazendo na cozinha e correu para porta.
- É o circo - gritou.
Em vez de se dirigir ao castanheiro, o Coronel Aureliano Buendía foi também para a porta da rua e se misturou com os curiosos que comtemplavam o desfile. Viu uma mulher vestida de ouro no cangote de um elefante. Viu um dromedário triste. Viu um urso vestido de holandesa que marcava o compasso da música com uma concha e uma caçarola. Viu os palhaços virando cambalhotas no final do desfile e viu outra vez a cara da sua solidão miserável quando tudo acabou de passar e não ficou senão o luminoso espaço da rua e o ar cheio de tanajuras e uns quantos curioso próximos ao precipício da incerteza. Então foi para o castanheiro, pensando no circo, e enquanto urinava tentou continuar pensando no circo, mas já não encontrou a lembrança. Meteu a cabeça entre os ombros, como um frango, e ficou imóvel com a testa apoiada no tronco do castanheiro. A família não soube de nada até o dia seguinte, às onze da manhã, quando Santa Sofía de la Piedad foi jogar o lixo no quintal e lhe chamou a atenção o fato de estarem baixando os urubus."

pirocas grandes, personalidades fortes e solidão

"Uma tarde, quando todos dormiam a sesta, não aguentou mais e foi ao seu quarto. Encontrou-o de cuecas, acordado, estendido na rede que pendurara nos ganhos com os cabos de amarrar navio. Impressionou-a tanto a sua enorme nudez sarapintada que teve o ímpeto de retroceder. "Vem cá", disse ele. Rebeca obedeceu. Deteve-se junto da rede, suando gelo, sentindo que se formavam nós nas tripas enquanto José Arcadio lhe acariciava os tornozelos com a polpa dos dedos, e depois a barrigadas pernas e depois as coxas, murmurando: "Ah, maninha; ah, maninha." Ela teve que fazer um esforço sobrenatural para não morrer quando uma potência ciclônica, assombrosamente regulada, levantou-a pela cintura e despojou-a da sua intimidade com três patadas, e esquartejou-a como a um passarinho. Conseguiu dar graças a Deus por ter nascido, antes de perder a consciência no prazer inconcebível daquela dor insuportável, chapinhando no lago fumegante da rede que absorveu como um mata-borrão a explosão de seu sangue"


Gabriel G. Márquez, em "Cem anos de solidão"

acho que fico por aqui

há uns quatro ou cinco dias que me sinto muito cansado com qualquer coisa que faço. caso aconteça alguma coisa com meu coração e que me encontrem num sono profundo demais numa manhã de terça-feira, deixo um pequeno testamento aqui, para desencargo de consciência:

-os livros que consegui comprar e juntar pra que minha prateleira ficasse mais bonita, quero que doem para alguma biblioteca de algum colégio, mas que seja um que os conserve bem, para deixá-los íntegros, e que a bibliotecária seja uma idiota, para que garotos e garotas que se interessem por algum deles possam roubá-los facilmente, sem nenhum transtorno maior.
-minhas roupas, joguem pela janela.
-meus escritos, queimem.
-meus bregueletes de gaveta, deem para algum maluco. só assim terão alguma utilidade.
-meu CD's, doem para alguma ONG de proteção a coisas antiquadas.
-o boneco de peruano que fica ao lado dos livros e que levanta o peru quando ele é levantado, deem para algum amigo meu viado . ele vai gostar.

lógico que também há coisas que quero que sejam ditas a algumas pessoas, coisa que não pode faltar em um testamento de verdade:

-ao meus pais...sei lá. peçam que me desculpem por morrerem antes deles.
-para meus irmãos, falem que foi muito bom, mas com certeza foi muito pior.
-ao matheus, que por favor arrume um apartamento, pois desconfio seriamente que o raphael não aguentará morar muito tempo com eles mais.
-ao alan, garoto com quem estudei na 2ª série, que ainda hoje o estrangularia com o maior prazer do mundo.
-a meus maiores amigos...bom, acho que nada precisará ser dito, até porque será uma dificil tarefa achá-los.

sinceramente, gostaria muito de continuar escrevendo essa humilde carta de despedida, mas como havia dito anteriormente, desconfio que posso piripaquear a qualquer momento, logo não seria prudente insistir em nada que possa demorar muito tempo. não posso arriscar a morrer com uma coisa tão importante incompleta.

enfim, foi ótimo compartilhar essa merda de mundo aqui com vocês, mas felizmente acho que chegou minha hora. aproveitem! há um mundo de merda todo pela frente!
eu é que não fico duas horas dentro duma sala de aula. me desculpa, mas não tá dando não.
como diria Millor Fernandes, não exatamente nessa mesma ordem: uma piada que precisa ser explicada não pode ser uma piada muito boa.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vem

"Vem!
Por favor, não evites,
meu amor, meus convites,
minha dor,
meus apelos!

Vou te envolver nos cabelos!
Vem perder-te em meus braços,
pelo amor de Deus!

Vem que eu te quero fraco!
Vem que eu te quero tolo!
Vem que eu te quero todo meu!"

Chico

terça-feira, 17 de março de 2009

Pedi pra sair

o rio de janeiro não me faz tão bem quanto achava que fazia antes. nesse tempo simbolizava (só para lembrar, eu moro em Niterói) um final de caminho, onde finalmente poderia construir algo novo e deixar tudo de ruim qua havia acontecido comigo para trás. dentre outras coisas tinha o objetivo de sair debaixo da asa de minha mãe e peitar a vida num arroubo de periquito contra gavião. sentia que Barra era um lugar que não poderia me conter, sentia que outras coisa com certeza me esperavam do outro lado de alguns meses que precisavam passar o mais rápido possível, num processo cheio de rituais de passagem e de descobertas a cada momento. de fato consegui muito dessas coisas, mas minha vida nunca mudou tanto (sim, tenho 20 anos) quanto nesses quase três anos de aventuras não tão ousadas 'fora' de casa, sendo sustentado hipoteticamente com a intenção de me dedicar a estudos supostamente importantíssimos para meu dito futuro. até aí qualquer pessoa que tenha passado por esse 'processinho' de sair da casa dos pais sentiu ou sente ainda essas revoluções psicológicas, muitas vezes incoscientes, que maltratam por bom tempo noites de insonia num travesseiro encharcado de lágrimas ou sentado numa privada gelada numa tarde de terça-feira olhando pro chão rosa desbotado dum banheiro com decoração dos anos 50. entretanto, o que sinto hoje, no rio de janeiro de todo dia que encontro de varias formas em varios ônibus sacolejantes por muitos cantos da cidade, é um ar tão denso que respirar deixa de ser natural. encontro pessoas tão distante do que poderia ser considerado intimidade que se sentir sozinho se torna algo rotineiro. escondi por muito tempo esse estranhamento e coloquei uma máscara de carioca sobre esse mal-estar que, agora vejo, sempre esteve presente. fingir-me como mais um dentre eles foi um artificio muito eficaz em uma fase em que tudo de novo passava por mim como algo a ser experimentado e que tinha, pensava eu, a obrigação de dar chance a essas experiencias. não. hoje não dá mais. sou do interior. vim pra cá com intenções boas. com a cabeça e o corpo aberto a qualquer coisa. decidi que as pessoas, naturalmente, são diferentes por aqui, indeferentes até a raiz, mas que levaria pouco tempo para também começar a ser mais um deles. não. não tem como. tenho que me assumir como estou e tentar lidar com essa confusão. uma mistureba sem forma nenhuma. não consigo mais ver com bons olhos a loucura. tenho que ter uma forma. tenho que organizar essa massa desforme que estou hoje. não há como viver na incompreensão. no 'nem-lá-nem-cá'. queria a justiça da ilusão de compreender tudo. me arrebanhar não seria uma opção (não seria justo pensar que exista rebanhos. é uma ideia tão feia), nem quero voltar ao que era antes(que ao meu ver nem ver mais posso, muito menos conceber o que estava antes). tenho que me impor, dar ordem, dar forma, dar organização a essa mistureba, por mais reacionario ou conservador que possam me taxar (me perdoem, mas não consigo lidar agora com nenhuma 'carne infinita'). preciso de meus pés no chão.

quarta-feira, 11 de março de 2009

As gotas do chuveiro caiam na sua cabeça de três em três segundos, talvez pela torneira não ter sido fechada direito, mas seria mais provável que fosse mais uma coisa que não funcionasse na cinqüentenária casa no centro da cidade. Os dois filhos não se faziam presentes nela, notadamente pelo vazio sonoro que nela assombrava até as madeiras podres, de acordo com o cotidiano escolar que os mantinham ocupados durante toda a tarde, cinco dias na semana, cinco horas por dia. seu marido já não incomodava o silencio da sala vazia há mais ou menos seis anos, e só se podia ouvir o gotejar calmo e maçante no couro cabeludo da mulher de meia idade que se confundia com a cor pastel desbotada da decoração ridícula do banheiro. era fácil confundir aquele corpo estático com um cadáver recém suicidado e essa imagem trazia a qualquer pessoa que a visse um sentimento de aceitação e compadecimento. Ficava ali, quieta, piscando muito pouco, com o corpo frio mesmo sem sua pele arrepiar, a olhar para o canto que o boxe de plástico rosa fazia com a parede por pastel, escondendo uma sujeira verde-escura de limo antigo. A confusão com o cadáver suicida poderia não ser uma confusão, tirando o motivo da falta de motivo para tal. Ele não existia como também não existia força de espírito para dar-se um tiro nas têmporas ou muito menos fazer-se sangrar pelas veias dos punhos languidos e frios. É preciso muita coragem. Não tinha motivo, não tinha força e tinha seus filhos, uma das únicas razões de não se matar, e uma das fortes razoes para não querer viver. Não por eles, mas por ela mesma, que quando adolescente quis ter uma menina de nome Sofia e criá-la do jeito que fosse, com o dinheiro que tivesse, ao lado de seu namorado que acreditava ter o mesmo sonho que o seu. Naquela hora já poderia ver tudo o que se passara desde a concepção. Ninguém nunca reclamara da falta que a falta de dinheiro causava naquela casa, e não era pouca, mas o sentimento que o ar pesado podia levar até para dentro dos pulmões era a de apatia, de complacência e de submissão a algo que não podia se entender.
Não chorava, não tinha nenhum arrependimento latente, não sentia dor, não sentia nada. Apenas se debatia na sua apatia cor de pastel.

terça-feira, 10 de março de 2009

Com certeza temos mais coisa em comum que imaginas.
Entre tantas, o medo é a maior.
O meu, covarde.
O seu, inevitável.
Talvez os dois inexplicáveis.

Eu te jogo prum canto como se tu fosses animal maltratado, escorraçado, magrelo e fraco.

Mas sim, temos tantas coisas em comum que tu nem imaginas. E fico te olhando, e fico te pensando, e me vem o amor maior que faz explodir o coração, como sempre sinto, lutando contra essa couraça, essa casca que fomos (fui) colocando por sobre tudo.
Nunca (!) vou conseguir me abrir, me fazer soltar para alguém, me descascar.
Mas aceito ajuda de qualquer um, dois ou três.

Minha esperança me diz que o tempo e o acaso são candidatos sempre para resolver qualquer parada.
È, pode ser.