quarta-feira, 25 de março de 2009

pirocas grandes, personalidades fortes e solidão

"Uma tarde, quando todos dormiam a sesta, não aguentou mais e foi ao seu quarto. Encontrou-o de cuecas, acordado, estendido na rede que pendurara nos ganhos com os cabos de amarrar navio. Impressionou-a tanto a sua enorme nudez sarapintada que teve o ímpeto de retroceder. "Vem cá", disse ele. Rebeca obedeceu. Deteve-se junto da rede, suando gelo, sentindo que se formavam nós nas tripas enquanto José Arcadio lhe acariciava os tornozelos com a polpa dos dedos, e depois a barrigadas pernas e depois as coxas, murmurando: "Ah, maninha; ah, maninha." Ela teve que fazer um esforço sobrenatural para não morrer quando uma potência ciclônica, assombrosamente regulada, levantou-a pela cintura e despojou-a da sua intimidade com três patadas, e esquartejou-a como a um passarinho. Conseguiu dar graças a Deus por ter nascido, antes de perder a consciência no prazer inconcebível daquela dor insuportável, chapinhando no lago fumegante da rede que absorveu como um mata-borrão a explosão de seu sangue"


Gabriel G. Márquez, em "Cem anos de solidão"