terça-feira, 8 de setembro de 2009

entre dois lugares

-Desculpe, minha senhora, mas por acaso exalo algum cheiro que a desagrade?
-Pois não?
-Meu cheiro a incomoda?
-Perdão, meu senhor, mas que tipo de pergunta é essa?
-Uma que é como qualquer outra...
-Convenhamos que não é uma bem comum...
-Convenho sim, mas então não irá responder?
-Se minha resposta é tão importante para o senhor, digo que sim, seu odor não me agrada de forma alguma.
-Bom, essa resposta só veio a confirmar minha suposição. O incômodo também é capaz de se exalar pelas pessoas.
-...não foi minha intenção...
-Não se aflija, cara senhora. Incomodo-me também muitas vezes com muitas coisas. Mas descobri que minha vida é outra, e muito melhor, depois que aprendi a gostar do que me incomodava, de tentar cheirar as coisas de outra maneira.
-E isso é possível? Cheirar uma mesma coisa de duas formas?
-E o que não é? Talvez fosse possível para a senhora também gostar de algo que a incomode, como meu cheiro.
-E por que se importa se gosto ou não de seu cheiro?
-E a senhora não gosta de que gostem de você?
-Mas em que dimensão cheirar e gostar tem relação um com o outro?
-Em todas, minha senhora. Não vês? Só se gosta pelo cheiro! O cheirar é o próprio gostar!

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