segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Os olhos também são claros. O vestido rosa e antigo, e empoeirada a capelina negra, sob o sol da rua. Ela é esguia, alta, desenhada a nanquim, uma pintura. As pessoas param e olham maravilhadas a elegância daquela estrangeira que passa sem ver. Soberana. Não se pode dizer imediatamente de onde vem. E depois pensa-se que só pode ter vindo de outra parte, de longe. Ela é bela, bela por isso. Veste-se com antigos trapos da Europa, restos de brocados, velhos costumes fora de moda, velhas cortinas, velhos bens, velhos fragmentos, velhos farrapos de alta costura, velhas peles de raposa comidas de traça, velhas lontras, sua beleza é assim, rasgada, friorenta, soluçante, e de exílio, nada lhe fica bem, tudo é grande demais para ela, e é belo, ela flutua, frágil, não se fixa em nada, mas é belo. Ela é feita assim, no rosto e no corpo, de modo que tudo que a toca logo participa, infalivelmente, daquela beleza.

Marguerite Duras, "O amante".

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